Nunca se deve subestimar o
instinto de sobrevivência: o mais sereno gato, quando encurralado, pode
tornar-se no mais feroz dos felinos.
António Costa, na noite de 4
de Outubro, era seguramente um político encurralado. Tendo destronado António
José Seguro, anterior Secretário-Geral do Partido Socialista, por ter tido, nas
Eleições Europeus, uma vitória curta, como poderia ele defender-se após nem
isso sequer ter conseguido?
Perante um emergente sussurro
que reclamava já a sua demissão, António Costa deu o passo mais arriscado de
toda a história política do Partido Socialista, aceitando assumir um Governo
refém do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista.
Este Governo, empossado no
final de Novembro, é decerto um Governo formalmente legítimo, mas, não menos
certamente, é um Governo condenado a cair à primeira contrariedade. A ilusão do
fim da austeridade é apenas isso: uma ilusão. Quando a União Europeia a
desfizer, como o fez na Grécia, logo a nossa extrema-esquerda, refém da sua
própria retórica maximalista, deixará de sustentar o Governo de António Costa.
Entretanto, continua a fazer
falta um Novo Centro para a política portuguesa. Nenhum dos novos partidos
emergentes conseguiu, por razões diversas, ocupar esse lugar essencial. Talvez
já nas próximas eleições, que, decerto, não demorarão quatro anos, alguns
desses novos partidos emergentes se possam juntar de modo a ocupar esse lugar cada
vez mais vazio no nosso espectro político.